Introdução
Em
um mundo de grande ilusão, competição, estrelato, primeiros lugares, sexo,
poder, riqueza e principalmente pelo fato de este mundo “jazer no maligno” (I
João 5.19), surgem os demasiados apegos. Sendo eles por usos, costumes,
tradições, falsos sentimentos, modismo, dentre outros.
Porém
neste ambiente temos o cristão que como peregrino, busca diante de todas as
aflições e provações andar, comportar, viver como a luz do mundo e o sal da
terra (Mateus 5.13-14), sendo exemplo para que no grande dia seja recebido no
Céu de glória eterna, mas para que isso seja possível, é preciso “renunciar”
este mundo que já estar morto, dominado pelo maligno.
Significado
de renúncia
A
princípio, é recomendado trazer o significado desta palavra essencial para os
cristãos:
O Novo Dicionário da
Língua Portuguesa (traduzido do Latim):
· Renuntiare
- Abdicar do uso de um direito ou da posse legítima de qualquer coisa. Não
querer. Desistir dodesejo, renegar. Afastar-se voluntariamente, abster-se; por
de parte uma vantagem, sacrificar-se.
O Novo Testamento
(traduzido do grego):
· Anarnesástho
– Imperativo
do aoristo médio de Aparnéomai - Negar-se a si mesmo como um ato totalmente
altruísta, abrir mão de sua personalidade (Mateus 16.24);
· Apotássomai
- Despedir-se, renunciar, abandonar (Lucas 14.33);
·
Arnesástho
- Dizer não, negar (Lucas 9.23), conforme Chave Linguística do Novo Testamento
Grego, Editora Vida Nova.
Tipos
de renúncias
Observando
o amplo significado, de acordo com o vernáculo, concluímos que a palavra renúncia,
vai muito mais além que um simples vocábulo. Entende-se que a “renúncia” na
vida de um cristão deve ser “progressiva”; isto é, todos os dias devemos
praticá-la com ascendência. Jamais poderá ser apenas uma bandeira, ou uma
nomenclatura. Deve fazer parte da vida cotidiana em todos os sentidos.
Conforme
já exposto, seu sentido é despedir-se com a conotação de abandonar. Uma
autonegação, abrindo mão até de sua personalidade. Jesus explica o paradoxo do
discipulado como: “Perder a vida é encontrá-la; morrer é viver”. Renunciar a si
mesmo é não assumir certo ascetismo falso, externo, mas colocar os interesses
do Reino em primeiro lugar na vida de uma pessoa. “Tomar a cruz” não significa
apenas suportar algum fardo irritante, mas renunciar as ambições centradas em
si mesmo. Tal sacrifício resulta na vida eterna e na experiência mais repleta
de vida no reino e agora (Marcos 10.29-30).
Vejamos
abreviadamente alguns tipos de renúncias que um Cristão verdadeiro tem por
obrigação de fazer:
A Renúncia do Ego - (Lucas
9.23; Mateus 13.22) Esse tipo de renúncia dói um pouco. É Abdicar do impulso
natural do homem caído, que costumeiramente quer sempre se sobrepor aos demais.
Esse comportamento às vezes fica escondido nos porões da alma humana, e com
muita tristeza, no coração de muitos que se dizem cristãos.
A Renúncia da Carne - (I João 2.15-17) A carne é nossa maior
inimiga. Paulo faz uma linda exegese da guerra entre as duas naturezas no
Capítulo sete de Aos Romanos. É propício citar os imperativos que o mesmo
Apóstolo Paulo delineia em Colossenses 3.1-13: 1º Buscai (v.1), 2º Pensai
(v.2), 3º Mortificai (v.5), 4º Despojai-vos (v.8). 5º Revesti-vos (v.12) 6º Suportai-vos
e 7º Perdoai-vos (v.13). É uma renúncia cotidiana.
A Renúncia do Ódio - (I João 2.5,9) Não faz parte da ética
alimentar ódio entre os outros, muito menos entre cristãos que dizem crer no
mesmo Jesus. Para um parco vislumbre tal atitude é natural a pessoas
individualistas. Entrementes, na vida cristã, o amor deve fazer a diferença entre
nós e as trevas (Mateus 5.16). Jamais um cristão deve alimentar dentro de si o
ódio, essa palavra deve ser tragada pela renúncia.
A Renúncia da Contenda -
(I
Coríntios 3.3) Lamentavelmente, é o que mais encontramos entre os cristãos. Se
fosse entre os ímpios, até que se poderia ponderar, afinal são ímpios. Paulo
faz reclamos desta maligna atitude na Igreja de Corinto. Estamos em meio a
diversas contendas, daí o aumento de denominações com os nomes mais
estrambólicos que se possa imaginar. Essas novas denominações e outras
atitudes, até de crentes que querem fazer de suas casas igrejas, na grande
maioria tem o seu nascedouro na contenda. Para o cristão verdadeiro a renúncia
da contenda é uma meta cotidiana.
A Renúncia do Desamor -
(Mateus 24.12) E por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. O
que dizer de novas igrejas ou novos ministérios que deixam de ensinar sobre o
amor e incitam o “desamor” nos novos convertidos? Em vez de promover a
comunhão, instigam o combate, a disputa e a contenda. Esses pretensos doutos
lamentavelmente prestam um desserviço a causa santa, criando partidarismo,
individualismo com perícia em acusações.
Para
ser cristão é necessário amar, mesmo aqueles que não comungam com os
pensamentos que achamos certos e santos. A crítica construtiva estimula o
raciocínio, mas a crítica sarcástica suscita a ira. Sejamos embebidos das
Palavras de nosso Mestre: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; como eu vos amei a vós, que também vós ameis uns aos outros. Nisto
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13.34-35).
A Renúncia da
Competição - (Gálatas 5.20) Estamos vivendo no
mundo das competições. Essa é uma doença dos séculos e mais acentuada nos
tempos hodiernos. Tiago destaca esse comportamento como a sabedoria deste
mundo: “Mas se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não
vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do
alto, mas é animal, terrena e diabólica. Porque onde há inveja e espírito
faccioso, ai há perturbação e toda obra perversa” (Tiago 3.14-16). O Apóstolo
Paulo demonstra a santificação de nossos relacionamentos aos Filipenses: “Nada
façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os
outros superiores a si mesmo” (Filipenses 2.3).
A Renúncia do Orgulho -
(Provérbios 8.13; 16.18; Isaías 9.9; Marcos 7.20-22) O orgulhoso traz consigo a
egolatria da satisfação e vaidade. É um sentimento elevado que uma pessoa faz
de si. Excesso de orgulho. Para entender bem o orgulho, basta estudar a
natureza de Satanás. Suas prerrogativas são sempre de altivez. Veja a alegoria
de como surgiu Satanás (Ezequiel 28.14-17). “Em Isaias 14 vemos os passos de um
orgulhoso e altivo: 1º Eu subirei ao céu (v13), 2º Acima das estrelas, 3º
Exaltarei o meu trono 4º Me assentarei, 5º Subirei...”. Foi exatamente por
causa do orgulho que surgiu o diabo. Hoje, com muita tristeza assistimos
“supostos irmãos”, que fazem questão de exibir o orgulho religioso, como se sua
denominação ou grupo iniciante fossem os únicos verdadeiros, deixando
transparecer o seu nítido descaso aos demais irmãos. Alguns se esquecem de
pensar que antes deles a Igreja já existia. Portanto, a renúncia do orgulho
cabe muito bem a estes.
A Renúncia da Inveja -
(Gálatas 5.21). Podemos descrever a inveja como sentimento de desgosto pela
prosperidade ou alegria de outrem, ou o desejo de possuir aquilo que os outros
possuem. No grego: “Fthónos” (inveja) traz a conotação do desejo de se
apropriar do que outras pessoas possuem, ou o desejo de privar o outro do que
ele tem. A inveja tem causado muitos problemas a famílias, empresas, igrejas
etc. Nem todos extravasam em alegria quanto um parente ou um “amigo” prospera.
Por incrível que pareça alguns sentem inveja até da maneira que Deus usa certas
pessoas. Enquanto não encontrar alguma coisa para intimidá-lo não sossega. Isso
não deveria existir entre os cristãos.
Renúncia da Inimizade -
(Gálatas
5.20). O Cristianismo é tão belo e salutar! Os cristãos Deveriam promover
amizades perfeitas e duradouras, afinal temos muitas coisas em comum: A Bíblia
Sagrada, Jesus, O Espírito Santo, a Igreja, o céu, os dons e tantas ferramentas
espirituais maravilhosas, que deveríamos viver um paraíso, um céu na terra
através da koinonia (comunhão, traduzido do grego). Mas para ponderar sobre
isto, cito o Apóstolo Paulo: “Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo
Espírito, acabais agora pela carne? (Gálatas 3.3).
“Maravilho-me
de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para
outro Evangelho” (Gálatas 1.6). Na maioria dos casos esses que promovem a
inimizades deixaram uma raiz de amargura crescer dentro de seus corações e
brotar a revolta dentre de si. Como fruto dessas reminiscências gera a
confusão. Mas há uma solução: renúncia é a palavra de ordem para que as coisas
regressem a normalidade espiritual.
A Renúncia da
maledicência - (Tiago 3.1-12) Esse tipo de renúncia
não é fácil, pois através das palavras ditas, podemos tropeçar. Tiago faz a
comparação do freio que se coloca na boca dos cavalos. “A língua é um fogo;
como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e
contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza e é inflamada pelo
inferno” (v.6). Tem muita gente tropeçando com acusações constantes a outros
irmãos, só porque se acham mais santos ou os únicos certos. A Renúncia da
maledicência é pertinente a estes.
Maledicência
é o ato de falar mal das pessoas.
Definição bem amena para um dos maiores flagelos da Humanidade. Mais
terrível do que uma agressão física.
Muito mais do que o corpo, fere a dignidade humana, conspurca reputações,
destrói existências. Mais insidiosa do que uma epidemia, na forma de boato - eu
"ouvi dizer" - alastra-se como rastilho de pólvora. Mera visão pirotécnica em princípio:
"Ele paga suas contas com atraso" ou "Ela sai muito de
casa". Depois, explosiva: "Ele é um ladrão! " ou "Ela está traindo o
marido!"
Arma
perigosa, está ao alcance de qualquer pessoa, em qualquer idade, e é muito
fácil usá-la: basta ter um pouco de maldade no coração. Tribunal corrupto, nele
o réu está, invariavelmente, ausente. É
acusado, julgado e condenado, sem direito de defesa, sem contestação, sem misericórdia.
Tão devastadora e, no entanto, não implica nenhum compromisso para quem a
emprega. Jamais encontraremos o autor de
um boato maldoso, de uma "fofoca” comprometedora. O maledicente sempre
"vende" o que "comprou".
Diante
dos fatos, encontramos as influências da Fala - Segundo a Palavra de Deus, a
língua é como o leme de um navio (Tiago 3.4), tem poder para governar. É como
uma pequena fagulha, tem poder de destruição. (Tiago 3.5). É como um membro
venenoso, tem poder de contaminação (Tiago 3.8). É como um chicote, tem poder
de tortura emocional (Jó 5.21). Tem o poder de uma pena de escrever, marca o
coração (Salmos 45.1). É como uma navalha afiada, tem poder para cortar
relações. É como uma espada afiada, uma arma de guerra à curta distância (Salmos
57.4). É como uma flecha, uma arma de guerra à longa distância (Jeremias 9.8).
Assim,
conseguimos identificar certos tipos e infelizmente muitos crentes, que agora
definiremos como pessoas com a língua enferma, vejamos os tais:
Os escarnecedores -
(Provérbios 13.1; Judas 1.17-19) São aqueles que além de individualistas, são
também cegos;
Os difamadores -
(Provérbios 16.28; Salmos 101.5; Salmos 15.1-3) São aqueles que possuem uma
doença crônica aliada à inveja;
Os cochichadores -
(Salmos 41.7) O mesmo que murmurador; aquele que gosta de falar coisas más em
voz baixa, o mexeriqueiro e bisbilhoteiro;
Os Intrometido e os
Futriqueiros - (I Pedro 4.15) Pessoas impertinentes,
que gostam de irritar com suas línguas ferinas. Esses, precisam com urgência
exercer a santificação de suas línguas.
Orientação
de Jesus Cristo
“Então
disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a
si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” (Mateus 16.24).
Antes
de desenvolver o tema deste verso, comentemos os seus termos:
·
Se
alguém – O dever imposto é para todos os que desejam se
unir aos seguidores de Cristo e alistar sob a Sua bandeira. “Se alguém quer”: o
grego é muito enfático, significando não somente o consentimento da vontade,
mas o pleno propósito de coração, uma resolução determinada;
·
Vir
após mim - Como um servo sujeito ao seu Mestre, um estudante
ao seu Professor, um soldado ao seu Capitão;
·
Negue
– O grego significa “negar totalmente;
·
Negar
a si mesmo - Sua natureza pecaminosa e corrompida;
·
E
tome
- Não passivamente sofra ou suporte, mas assuma voluntariamente, adote
ativamente;
·
Sua
cruz - Que é desprezada pelo mundo, odiada pela carne,
mas que é a marca distintiva de um cristão verdadeiro;
·
E
siga-me - Viva como Cristo viveu para a glória de Deus.
O
contexto imediato é mais solene e impressionante. O Senhor Jesus tinha acabado
de anunciar aos Seus apóstolos, pela primeira vez, a aproximação de Sua morte
de humilhação (v. 21). Pedro se assustou, e disse, “Tem compaixão de Ti,
Senhor” (v. 22). Isto expressou a política da mente carnal.
O
caminho do mundo é a procura para si mesmo e a defesa de si mesmo. “Tenha
compaixão de ti” é a soma de sua filosofia. Mas a doutrina de Cristo não é
“salva a ti mesmo”, mas sacrifica a ti mesmo.
Cristo
discerniu no conselho de Pedro uma tentação de Satanás (v. 23), e imediatamente
a rejeitou. Então, voltando-se para Pedro, disse: Não somente “deve” o Cristo
subir à Jerusalém e morrer, mas todo aquele que desejar ser um seguidor dEle,
deve tomar sua cruz (v. 24). O “deve” é tão imperativo num caso como no outro. Como
Mediadora, a cruz de Cristo permanece sozinha; mas de forma experimental, ela é
compartilhada por todos que entram na vida.
O
que é um cristão?
Alguém
que sustenta membresia em alguma igreja terrena? Não. Alguém que crê num credo
ortodoxo? Não. Alguém que adota um certo modo de conduta? Não. O que, então, é
um cristão?
Ele
é alguém que renunciou a si mesmo, recebeu a Cristo Jesus como Senhor e anda
nEle (Colossenses 2.6). Ele é alguém que toma o jugo de Cristo sobre si e
aprende dEle que é “manso e humilde de coração”. Ele é alguém que foi “chamado
à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1.9): comunhão
em Sua obediência e sofrimento agora, em Sua recompensa e glória no futuro sem
fim.
Não
há tal coisa como pertencer a Cristo e viver para agradar a si mesmo. Não
cometa engano neste ponto, “E qualquer que não tomar a sua cruz e não vier após
mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.27), disse Cristo. E novamente Ele
declarou, “Mas aquele (ao invés de negar a si mesmo) que me negar diante dos
homens (não “para” os homens: é conduta, o caminhar, que está aqui em vista),
também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10.33).
A
vida cristã começa com um ato de auto renúncia, e é continuada pela auto mortificação
(Romanos 8.13). A primeira pergunta de Saulo de Tarso, quando Cristo o
apreendeu, foi, “Senhor, que queres que eu faça?”. A vida cristã é comparada
com uma “corrida”, e o corredor é chamado para “deixar todo embaraço e o pecado
que tão de perto nos assedia” (Hebreus 12.1), cujo “pecado” é o amor por si
mesmo, o desejo e a determinação de ter o nosso “próprio caminho” (Isaías 53.6).
O
grande alvo, fim e tarefa posta diante do Cristão é seguir a Cristo, seguir o
exemplo que Ele nos deixou (1 Pedro 2.21), e Ele “não agradou a si mesmo”
(Romanos 15.3). E há dificuldades no caminho, obstáculos na estrada, dos quais
o principal é o eu. Portanto, este deve ser “negado”. Este é o primeiro passo
para se “seguir” a Cristo.
Qual
significado para um homem negar a si mesmo?
Primeiro,
isto significa a completa repudiação de sua própria bondade. Significa cessar
de descansar sobre quaisquer obras nossas, para nos recomendar a Deus.
Significa uma aceitação sem reservas do veredito de Deus que “todas as nossas
justiças (nossas melhores performances), são como trapo da imundícia” (Isaías
64.6). Foi neste ponto que Israel falhou: “Porquanto, não conhecendo a justiça
de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à
justiça de Deus” (Romanos 10.3). Agora, contraste com a declaração de Paulo: “E
seja achado nEle, não tendo justiça própria” (Filipenses 3.9).
Para
um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua
própria sabedoria. Ninguém pode entrar no reino dos céus, a menos que tenha se
tornado “como criança” (Mateus 18.3). “Ai dos que são sábios a seus próprios
olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Isaías 5.21). “Dizendo-se sábios,
tornaram-se loucos” (Romanos 1.22).
Quando
o Espírito Santo aplica o Evangelho em poder numa alma, é para “destruir os
conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (II Coríntios 10.5).
Um modo sábio para o todo cristão adotar é “não te estribes no teu próprio
entendimento” (Provérbios 3.5).
Para
um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua
própria força. É “não confiar na carne” (Filipenses 3.3). É o coração se
curvando à declaração positiva de Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15.5).
Este é o ponto no qual Pedro falhou: (Mateus 26.33). “A soberba precede a
ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Provérbios 16.18). Quão
necessário é, então, que prestemos atenção à (I Coríntios 10.12) “Aquele, pois,
que cuida estar em pé, olhe que não caia”! O segredo da força espiritual reside
em reconhecer nossa fraqueza pessoal: (veja Isaías 40.29). Então,
“fortifiquemo-nos na graça que há em Cristo Jesus” (II Timóteo 2.1).
Para
um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua
própria vontade. A linguagem do não-salvo é, “Não queremos que este Homem reine
sobre nós” (Lucas 19.14). A atitude do cristão é, “Para mim, o viver é Cristo”
(Filipenses 1.21), honrá-Lo, agradá-Lo, servi-Lo. Renunciar sua própria vontade
significa atender à exortação de Filipenses 2.5, “Que haja em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus”, o qual é definido nos versos que
imediatamente seguem como de abnegação. É o reconhecimento prático de que “não
sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço” (I Coríntios 6.19-20).
É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres”
(Marcos 14.36).
Para
um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente suas
luxúrias ou desejos carnais. “O ego do homem é um feixe de ídolos” (Thomas
Manton, Puritano), e estes ídolos devem ser repudiados. Os não-cristãos são
“amantes de si mesmos” (II Timóteo 3.2); mas aquele que foi regenerado pelo
Espírito diz com Jó, “Eis que sou vil” (40.4), “Eu me abomino” (42.6). Dos
não-cristãos está escrito, “todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo
Jesus” (Filipenses 2.21); mas dos santos de Deus está registrado, “eles não
amaram a sua vida até à morte” (Apocalipse 12.11).
A graça de Deus está
“ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas,
vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tito 2.12).
Esta
negação do ego que Cristo requer de todos os Seus seguidores deve ser universal.
Não há nenhuma reserva, nenhuma exceção feita: “Nada disponhais para a carne no
tocante às suas concupiscências” (Romanos 13.14). Deve ser constante, não
ocasional: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a
sua cruz e siga-me” (Lucas 9.23). Deve ser espontânea, não forçada, realizada
com satisfação, não relutantemente: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o
coração, como para o Senhor e não para homens” (Colossenses 3.23). Ó, quão
impiamente o padrão que Deus colocou diante de nós tem sido rebaixado! Como
isso condena a vida acomodada, agradável à carne e mundana de tantos que
professam (mas, de maneira vã) que eles são “cristãos”!
“E
tome a sua cruz”. Isto se refere não à cruz como um objeto de fé, mas como uma
experiência na alma. Os benefícios legais do Calvário são recebidos através do
crer, quando a culpa do pecado é cancelada, mas as virtudes experimentais da
Cruz de Cristo são somente desfrutadas à medida que somos, de um modo prático,
“conformados com a Sua morte” (Filipenses 3.10). É somente à medida que
realmente aplicamos a cruz às nossas vidas diárias, regulamos nossa conduta
pelos seus princípios, que ela se torna eficaz sobre o poder do pecado que
habita em nós. Não pode haver ressurreição onde não há morte, e não pode haver
andar prático “em novidade de vida” até que “carreguemos no corpo o morrer do
Senhor Jesus” (II Coríntios 4.10). A “cruz” é o sinal, a evidência, do
discipulado cristão. É sua “cruz”, e não o seu credo, que distingue um
verdadeiro seguidor de Cristo do mundano religioso.
Agora,
no Novo Testamento a “cruz” tem o significado de realidades definidas.
Primeiro, ela expressa o ódio do mundo. O Filho de Deus veio aqui não para
julgar, mas para salvar; não para punir, mas para redimir. Ele veio aqui “cheio
de graça e verdade”. Ele sempre esteve à disposição dos outros (Mateus 20.28):
ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os enfermos,
libertando os possessos pelo demônio, ressuscitando os mortos. Ele era cheio de
compaixão: gentil como um cordeiro; inteiramente sem pecado. Ele trouxe com Ele
felizes notícias de grande alegria. Ele procurou os perdidos, pregou aos
pobres, todavia, não desdenhou dos ricos; Ele perdoou pecadores.
E,
como Ele foi recebido? Que tipo de recepção os homens Lhe deram? Eles O
“desprezaram e rejeitaram” (Isaías 53.3). Ele declarou, “Eles Me odeiam sem uma
causa” (João 15.25). Eles tiveram sede de Seu sangue. Nenhuma morte ordinária
os apaziguaria. Eles demandaram que Ele deveria ser crucificado. A Cruz, então,
foi a manifestação do ódio inveterado do mundo pelo Cristo de Deus.
O
mundo não mudou, não mais do que o etíope pode mudar sua pele ou o leopardo
suas manchas. O mundo e Cristo ainda estão em aberto antagonismo. Por
conseguinte, está escrito: “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo
constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4.4). É impossível andar com Cristo e
comungar com Ele, até que tenhamos nos separado do mundo (Romanos 8.1). Andar
com Cristo necessariamente envolve compartilhar Sua humilhação: “Saiamos, pois,
a Ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13.13). Isto foi o
que Moisés fez (Hebreus 11.24-26).
Quanto
mais próximo eu andar de Cristo, mais eu serei mal-entendido (I João 3.2),
ridicularizado (Jó 12.4) e detestado pelo mundo (João 15.19). Não cometa engano
aqui: é extremamente impossível continuar com o mundo e ter comunhão com o
Santo Cristo. Portanto, “tomar” minha “cruz” significa, que eu deliberadamente
convido a inimizade do mundo através da minha recusa em ser “conformado” a ele
(Romanos 12.2). Mas, o que importa o olhar carrancudo do mundo, se estou
desfrutando os sorrisos do Salvador?
Tomar
minha “cruz” significa uma vida voluntariamente rendida a Deus. Como o ato dos
homens ímpios, a morte de Cristo foi um assassinato; mas como o ato do próprio
Cristo, foi um sacrifício voluntário, oferecendo a Si mesmo a Deus. Foi também
um ato de obediência a Deus. Em João 10.17-18 Ele disse, “Ninguém a [Sua vida]
tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”. E por que Ele o fez?
Suas próximas palavras nos dizem: “Este mandato recebi de meu Pai”.
A
cruz foi a suprema demonstração da obediência de Cristo. Nesta Ele foi o nosso
Exemplo. Uma vez mais citamos Filipenses 2.5: “Que haja em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus”.
E
nos versos seguintes nós vemos o Amado do Pai tomando a forma de um Servo, e
tornando-Se “obediente até a morte, e morte de cruz”.
Agora,
a obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão — voluntária, alegre,
sem reservas, contínua. Se esta obediência envolve vergonha e sofrimento,
acusação e perda, não devemos nos acovardar, mas pôr o nosso rosto “como um
seixo” (Isaías 50.7). A cruz é mais do que o objeto da fé do cristão, ela é o
sinal de discipulado, o princípio pelo qual sua vida deve ser regulada. A
“cruz” significa rendição e dedicação a Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas
misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12.1).
A
“cruz” significa serviço vicário e sofrimento. Cristo deu a Sua vida pelos
outros, e Seus seguidores são chamados a estarem dispostos para fazerem o
mesmo: “Devemos dar nossa vida pelos irmãos” (I João 3.16). Esta é a lógica
inevitável do Calvário. Somos chamados para seguir o exemplo de Cristo, para a
companhia de Seus sofrimentos, e para ser participantes em Seu serviço. Assim
como Cristo “a si mesmo se esvaziou” (Filipenses 2.7), assim devemos fazer.
Assim como Ele “veio para servir, e não para ser servido” (Mateus 20.28), assim
devemos ser. Assim como Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15.3), assim
devemos fazer. Assim como Ele lembrou dos outros, assim devemos lembrar:
“Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos,
como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados” (Hebreus 13.3).
“Porquanto,
quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa
achá-la-á” (Mateus 16.25). Palavras quase idênticas a estas são encontradas
novamente em Mateus 10.39. Marcos 8.35, Lucas 9.24; 17.33, João 12.25.
Certamente, tal repetição mostra a profunda importância de notar e prestar
atenção a este dito de Cristo. Ele morreu para que nós pudéssemos viver (João
12.24), e assim devemos fazer (João 12.25). Como Paulo, devemos ser capazes de
dizer “Em nada tenho a minha vida por preciosa” (Atos 20.24). A “vida” que é
vivida para a gratificação do ego neste mundo, está “perdida” para eternidade;
a vida que é sacrificada para os interesses próprios e rendida a Cristo, será
“achada” novamente, e preservada durante toda a eternidade.
Um
jovem universitário graduado, com prospectos brilhantes, respondeu ao chamado
de Cristo para uma vida de serviço a Ele na Índia, entre a casta mais baixa dos
nativos. Seus amigos exclamaram: “Que tragédia! Uma vida lançada fora!” Sim,
“perdida”, até onde diz respeito a este mundo, mas “achada” novamente no mundo
porvir!
“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos
o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavra ou de sabedoria.
Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.
E eu estive convosco em fraqueza, e em temor e em grande tremor. A minha
palavra e a minha pregação não consiste em palavras persuasivas de sabedoria
humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se
apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Todavia, falamos
sabedoria entre os perfeitos, não porém, a sabedoria deste mundo, nem dos
príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas falamos a sabedoria de Deus,
oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória” (I
Coríntios 2.1-7).
Jairzinho Viana
Apologista
cristão, Ministro, Líder fundador da Igreja Pentecostal da Anunciação (IPA) na Cidade
de Parauapebas e Presidente da Mesa Diretora.
Contato para agendas:
redencaodasalmas@gmail.com
Referências:
A
Cruz e o Ego - Arthur W. Pink
Tipos
de renúncia - Pr. Elias Croce
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