Quem dera que os
meus caminhos fossem dirigidos a observar os teus mandamentos (Salmos 119.5).
Amar
a Jesus - (João 14.15)
Parece claro que
o seu significado é o seguinte: nosso amor por Jesus não é feito só de
palavras, porque exige obediência aos mandamentos de Jesus e obediência é uma
decisão acompanhada por um conjunto permanente de atitudes.
Se for isto,
precisamos considerar ainda três perguntas centrais, que outras declarações de
Jesus esclarecem, tornando maior o desafio diante de nós. E aqui precisamos nos
lembrar de um princípio essencial, quando lemos as Escrituras. Não tomemos
nenhuma decisão com base numa declaração bíblica que não entendemos. Precisamos
entender o que significa este texto, então, continuar lendo a Bíblia e
continuar fazendo perguntas que nos ajudem a entendê-la e a viver.
O
que é amar a Jesus?
A pergunta é
importante porque todos nós dizemos às pessoas que amamos a Jesus. Entre os que
dizem amar a Jesus há os que não amam. Eu preciso me perguntar, então, se amo
mesmo a Jesus. Preciso ouvir Jesus dizer: (João 14.21) e (João 14.23-24).
Quais
são os mandamentos de Jesus?
Se eu digo que
amo a Jesus, dou provas deste amor obedecendo aos mandamentos de Jesus. O verbo
obedecer demanda um objeto. Um objeto está claro: precisamos obedecer a quem? A
Jesus, mas o verbo pede outro complemento. Obedecer a que? A resposta é
evidente: aos mandamentos de Jesus. Então, precisamos conhecer esses
mandamentos. Jesus mesmo diz que o meu mandamento é este:-- Amem-se uns aos outros
como eu os amei (João 15.12).
O
que é obedecer a Jesus?
Vamos chegando
ao centro existencial do amor a Jesus. A síntese que Ele nos oferece é
desafiadora: (João 15.10) e (João 15.14) - Numa palavra, obedecer às suas
ordens. Estas afirmações nos colocam outras perguntas, especialmente no
contexto da desejada autonomia do ser humano. Se ser cristão é obedecer a
Cristo, um homem autenticamente humano não pode ser cristão, já que precisa
viver segundo os ditames da (sua) razão, não da razão de ninguém. A crítica é
obvia: um cristão é uma pessoa de segunda classe, que não pensa por si mesmo. Por
outro lado, essas declarações parecem condicionar o amor de Jesus para conosco
ao nosso amor por Ele. A consequência é, no plano da oração, que nós
determinamos -- com nossa (in)fidelidade -- o padrão de sua resposta. Se somos
obedientes, conseguimos tudo, se não estamos conseguindo, é porque não somos
obedientes. Está aberta a porta para o legalismo, segundo o qual nós merecemos
ser abençoados em função daquilo que fazemos. Numa só frase: Deus só abençoa a
quem guarda os seus mandamentos, pois Ele só ama a quem O ama. Retomo, então,
antes de prosseguir algumas afirmações já deixadas aqui.
Amar a Jesus não
é algo que se faça só com palavras, porque exige obediência aos mandamentos de
Jesus e obediência é uma decisão acompanhada por um conjunto permanente de
atitudes. Logo, vem à pergunta: amamos mesmo a Jesus?
Amar a Jesus não
é verbo que todos conjuguem. Há pessoas que não amam a Jesus, embora possam até
dizê-lo.
Amar a Jesus é
obedecer a Jesus, lendo os seus mandamentos e buscando pôr em prática o que Ele
nos ordena. Obedecer a Jesus é "aceitar totalmente seu modo de vida como o
nosso modo de vida. Então, e só então, poderemos experimentar como o jugo é suave
e como o fardo é leve". (Dallas Willard)
Amar a Jesus é
ama-lo amando as pessoas que nos cercam, as boas e as más. Amar o outro é amar
os que fazem parte de nossa família, mesmo aqueles que nos pisam no calcanhar,
e aqueles que não fazem parte da nossa família, com os quais nos vamos (des)
encontrando ao longo da vida. Amar o outro é amar os que fazem parte da nossa
igreja, mesmo aqueles que não nos parecem simpáticos, e aqueles que, segundo
nossa avaliação, sequer dão um bom testemunho de cristãos, e também aqueles que
não fazem parte da nossa igreja, não creem como nós cremos e que até mesmo não creem.
É isto que Ele pede aos seus amigos. Queremos ser mesmos amigos de Jesus?
Servos,
Discípulos, Amigos!
Retomemos as
declarações de Jesus sobre amor e obediência: (João 14.15), (João 14.21), (João
14.23-24), (João 15.10), (João 15.12b), (João 15.14).
Não encontramos
na boca de nosso Mestre a ideia de um Deus que ama incondicionalmente e que não
pede nada. Na Bíblia não encontramos esse Deus que não exige nada de nós e faz
que não vê o nosso pecado. Deus é sério. É também por isto que nos deixou
tantos mandamentos. A diferença é que esses mandamentos devem ser vivenciados
por causa do amor a Deus, não por causa das consequências da desobediência.
Esta é uma das diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento. A graça, como
aprendemos no Novo Testamento, não me libera para fazer o que EU acho certo,
mas me convida a fazer o que DEUS diz que é certo. Os mandamentos a que Jesus
se refere são os absolutos de Deus para as nossas vidas. Em certo sentido, não
há nenhuma diferença entre alguns cristãos e algumas pessoas que não creem em
Jesus como Salvador e Senhor. Para ambos, se ser cristão é obedecer a Cristo,
uma pessoa autenticamente humana não pode ser cristã, já que precisa viver
segundo os ditames da (sua) razão, não da razão de ninguém. A crítica é óbvia:
um cristão é uma pessoa de segunda classe, que não pensa por si mesmo. Há
cristãos que não querem ser cidadãos de segunda classe aos olhos dos homens sem
Deus.
Objeções
a Obediência!
Externamente à
fé cristã, afirma-se que uma pessoa, no uso de sua razão, não pode obedecer a
nada e a ninguém, se não à sua própria razão. Não há mandamento a ser seguido,
portanto. Diante das possibilidades, devemos examinar, à luz do que pensamos, e
agir. Não pode haver qualquer Fonte de autoridade externa. Interna e
marginalmente à fé cristã, vive-se que devemos seguir aquilo que achamos certo.
É comum ouvirmos que devemos seguir o nosso coração. Devemos fazer o que ele
mandar. Chegam alguns a dizer que Deus não permitirá desejar o que não for bom
para nós.
A resposta vem
em três afirmativas.
1. A obediência que vem do nosso
amor-resposta a Deus não nos despersonaliza. Antes, ela nos realiza.
2.
A
obediência que vem da confiança em Deus não nos paralisa. Antes, ela nos
dinamiza.
3. A obediência que vem do
reconhecimento da sabedoria, soberania e misericórdia de Deus, não nos
idiotiza. Antes, ela nos autonomiza.
A
obediência que vem do nosso amor-resposta a Deus não nos despersonaliza. Antes,
ela nos realiza.
Jesus usa três
expressões para definir nosso relacionamento com ele: servo, discípulo e amigo.
Do ponto de vista de Jesus, são palavras sinônimas. Do ponto de vista humano,
são palavras que denotam uma ascensão. Começamos como servos (Jesus é o nosso Senhor), tornamo-nos discípulos (Jesus é o nosso Mestre), para chegarmos a ser amigos (Jesus é Deus Conosco). Há um
continuum, uma progressão, uma caminhada. Quando chegamos a ser amigos de Jesus, entendemos que somos
ao mesmo tempo servos e discípulos. Nosso modelo é o relacionamento
de Jesus com o Pai. Ele recebia ordens do Pai, mas estavam em tal sintonia que
não lhe vinham como imposições. Ele mesmo abriu mão de sua divindade
(Filipenses 2.6) como parte do projeto da Trindade. Quando entrou em agonia,
triste com a morte que afinal se prenunciava, buscou a vontade do Pai,
recebendo-a como Sua vontade. A morte era um fardo; a obediência, não. Não
temos como ser amigos de Jesus, se não somos discípulos e servos.
A
obediência que vem da confiança em Deus não nos paralisa. Antes, ela nos
dinamiza.
Imaginemos um
filho caminhando com seu pai, de mãos dadas por uma praia. O filho não se
preocupa com pedras adiante ou com ondas ao fundo. Ele confia que seu pai o
livrará. Assim, quando, sem que perceba, seu pai o puxa, o filho não resiste.
Ele confia que seu pai está fazendo o melhor, mesmo que não entenda.
A
obediência que vem do reconhecimento da sabedoria, soberania e misericórdia de
Deus, não nos idiotiza. Antes, ela nos autonomiza.
O homem está
sempre em busca da autonomia, isto
é, do autogoverno, achando o que é melhor para si. Neste processo, o homem
acaba escravo de algum tipo de heteronomia
(Condição de pessoa ou de grupo que receba de um elemento que lhe é exterior,
ou de um princípio estranho à razão, a lei a que se deve submeter), tornando-se seguir de um líder,
de uma ideia ou de uma prática que lhe é sugerida ou mesmo imposta. Somos
convidados a uma terceira via: a teonomia
(Lei de Deus), que é respeitosa. Quem vive a teonomia reconhece que não
pode guiar-se a mesmo e aceita o convite de Deus para uma vida feliz segundo os
princípios que Ele põe. Muitos escolhemos a teonomia, mas não nos empenhamos em
conhecer o Deus dos princípios e nem os princípios de Deus.
Aprendendo
a Obedecer!
Precisamos
aprender a obedecer, renunciando ao nosso natural impulso para a desobediência.
Obediência tem a ver com a fé, não com a razão (Romanos 1.5-6). Somos chamados
a obedecer e somos chamados a ajudar os outros no caminho da obediência (Mateus
5.19). Nem todos os mandamentos têm o mesmo valor; há uma hierarquia neles (Marcos
12.28-31), (II João 1.6) e (I João 3.23-24). A obediência começa com a
intenção, mas se realiza na ação (I João 2.3-6). A obediência é a resposta
efetiva, além das nossas palavras, à Palavra de Deus. Implica em autonegação. Repitamos:
"Se desejarmos seguir a Cristo -- e caminhar no jugo suave com Ele
--teremos de aceitar totalmente seu modo de vida como o nosso modo de vida.
Então, e só então, poderemos experimentar como o jugo é suave e como o fardo é
leve". (Dallas Willard)
A
quem Deus abençoa?
Ensinam alguns
que Deus só abençoa a quem guarda os seus mandamentos, pois Ele só ama a quem O
ama. As palavras de Jesus parece nos levar para esta conclusão: (João 14.21),
(João 14.23) e Paulo parece fazer coro (Romanos 8.28). Essas declarações
parecem condicionar o amor de Jesus para conosco ao nosso amor por Ele. A consequência
é, no plano da oração, que nós determinamos -- com nossa (in) fidelidade -- o
padrão de sua resposta. Se somos obedientes, conseguimos tudo. Se não estamos
conseguindo, é porque não somos obedientes. Está aberta a porta para o
legalismo, segundo o qual nós merecemos ser abençoados em função daquilo que
fazemos. Numa só frase: Deus só abençoa a quem guarda os seus mandamentos, pois
Ele só ama a quem O ama. Precisamos tomar com cuidado.
Lembremo-nos que
o amor a Deus biblicamente sugerido ao homem é um amor de todo o coração, sem
esperar nada em troca. O fato de nós O amarmos de todo o coração não O obriga a
nada. Se amamos porque esperamos, não amamos de todo o coração. A obediência
humana deve decorrer do amor humano.
A resposta
divina decorre do amor divino. Deus atende aos obedientes, mas também atende
aos desobedientes. A atenção para com os desobedientes é sobrenatural; não
ocorre a toda hora, mas é fruto do amor sem reservas de Deus e para o bem do
desobediente. A atenção para com os obedientes é natural, no sentido que ocorre
como regra geral. É por isto que quem obedece é feliz.
O amor para com
o desobediente é um amor apaixonado. O amor para com o obediente é um amor
igualmente apaixonado. Se o desobediente soubesse o quanto é amado por Deus,
desobedeceria menos.
Os legalistas
tendem a pensar que Deus só ama alguns, aos bonzinhos, como eles, que fazem
tudo direitinho. Os libertinos tendem a pensar que Deus ama a todos, não
importa que O busquem ou não. Ambos estão errados. O manual do amor de Deus é
diferente do nosso. Foi por isto que Ele nos amou quando ainda estávamos mortos
e nos trouxe à vida. É por isto que nos deixa mandamentos e nos instrui sobre
eles até o dia de hoje.
Deus ama a
todos. Quem não o ama sequer sabe disto. Sabe disto quem o ama de todo o
coração. Quem o ama desfruta de Sua presença e orientação.
Amar
implica em liberdade
- Quem ama não perde a liberdade; antes, realiza-se plenamente, não mais
solitariamente, mas agora comunitariamente. Amar é relacionar-se e só se
relacionam pessoas livres. Em seu relacionamento conosco, Deus nos respeita em
nossa liberdade, o que inclui até recusa-lo. E não devemos nos esquecer que
Deus também é livre. Ele é livre para nos amar. Ele é livre para fazer o que
Lhe pedimos e livre para não fazer o que Lhe pedimos. Só um Deus livre pode
amar verdadeiramente. Quando descambamos para atitudes pagãs, seja do
mercantilismo (damos, nem que seja obediência, para receber algo em troca de
Deus), seja da magia (com frases de efeito e palavras mágicas), ignoramos a
liberdade divina, traduzida como soberania divina. Só um Deus soberano pode
fazer milagres. Um Deus soberano é um Deus livre. Então, Deus ama a quem
corresponde livremente ao seu amor, porque se trata de uma questão de respeito
à liberdade humana. Neste sentido, os mandamentos de Jesus são diferentes dos
mandamentos dos homens porque é um produto da liberdade (é escolha livre), que
decorre de uma decisão de amor. A bênção de Deus respeita nossa liberdade,
expressa essa liberdade em forma de amor. Quando amamos a Deus, nós autorizamos
a chegada de Sua bênção. Quando amamos a Deus, nós permitimos que suas mãos se
abram. Por isto, a oração é dirigida numa condição, como Jesus ensinou (Mateus
6.10) e praticou (Mateus 26.42). Devemos pedir o que precisamos. Deus não nos
quer dar o que nós não precisamos.
Precisamos
compreender ainda que as bênçãos de Deus são respostas livres a nossa obediência,
mas não somente. O foco não está no homem que obedece, mas no Deus que é
obedecido. Na antiga aliança havia parceria, mas o foco estava no homem. Na
nova aliança há parceria, só que o seu foco está em Deus. Não se obedece por
causa dos resultados. Obedece-se por causa do amor. Não se obedece para
merecer. Obedece-se por saber que é o melhor a fazer. Na teologia do mérito,
não importa o coração, mas o resultado. Quando uma empresa, por exemplo,
estabelece uma meta, não se interessa pelo que o empregado pensa acerca dela ou
daquela meta; não lhe interessa se o preço para se cumprir a meta foi alto; o
que importa se a meta foi alcançada. Na teologia bíblica, o que importa é o
coração, isto é, a motivação, o interesse, a paixão, o amor por Deus. Não posso
cansar de repetir: os mandamentos de Deus não são para o bem de Deus, mas para
o nosso. Nosso amor, em formato de obediência, não condiciona o amor de Deus,
mas autoriza que o amor de Deus por nós se exercite concretamente. O padrão
divino é o padrão do respeito: Ele espera que O queiramos. Enquanto não o
queremos, Ele espera, do lado de fora do nosso coração.
Sei que resta
uma dúvida para aquele que quer obedecer: Como posso saber a vontade de Deus,
para obedece-la? Não bastam os mandamentos que estão na Bíblia? Sim, eles são
abundantes e suficientes. São suficientes e abundantes. Podemos ocupar nossas
vidas com eles, mas como ficam os mandamentos novos, dados hoje? Como os
conheceremos? Como os aplicaremos? Ou melhor: a quais iremos considerar para
tomar decisões dos nossos dias? Pela oração consultamos a Deus, com todos os
riscos da nossa subjetividade (logo, de nossa subjetiva e falível
interpretação). Assim, os mandamentos, lidos com inteligência e coragem,
estabelecem os princípios gerais. A oração nos acompanha ao longo da estrada
dos mandamentos. O amor continua evitar a desobediência. Explicito. Imagine que
você está com muita raiva de alguém, ao ponto de desejar elimina-lo
fisicamente. Você conhece um dos Dez Mandamentos, especialmente o que diz:
"Não matarás" (Êxodo 20.13). Ele é forte, mas pode ser mais fraco que
seu desejo homicida. A leitura dos Dez Mandamentos nos mostra que praticamente
todas as nossas decisões são orientadas nesses Mandamentos. Há perguntas que
não precisamos mais fazer: devo matar alguém? Posso abortar? Posso caluniar
alguém para subir na vida? Posso piratear um programa de computador ou uma obra
(música ou livro)? As respostas estão evidentes nos Dez Mandamentos. No
entanto, nosso desejo pode ser muito mais forte que o Mandamento, a menos que
nós peçamos a Deus que nos tire aquele desejo ou que nos fortaleça para
controlar nossa fraqueza. Se nós pedirmos a Deus, lendo a Sua Palavra, para nos
livrar do mal de um desejo contrário ao mandamento, Ele nos abençoará. A
verdade é que muitas vezes tocamos as nossas vidas como se Deus não existisse
com medo que Ele nos lembre de um mandamento antigo e que nós já sabemos. Por
isto, termino com esta confissão, que podemos fazer nossa: "Eu não consigo obedecer à lei de Deus se eu
não viver pela graça de Deus, à luz do Evangelho de Jesus Cristo e pelo poder
do seu Espírito. Eu preciso da graça todos os dias para me ajudar na disciplina
do meu coração e quando tento imitar as qualidades perfeitas do Senhor Jesus"
(Willen vanGemeren).
Não somos mais
capazes que Deus. "O que tenho feito com o meu impulso para a
desobediência? -- eis a pergunta que não pode calar. Não há dúvida: "Se
desejarmos seguir a Cristo -- e caminhar no jugo suave com Ele --teremos de
aceitar totalmente seu modo de vida como o nosso modo de vida. Então, e só
então, poderemos experimentar como o jugo é suave e como o fardo é leve".
(Dallas Willard)
O
Peso dos Mandamentos de Deus!
Termino
afirmando que os mandamentos de Jesus são diferentes dos mandamentos dos homens
porque não são pesados.
Quando o Estado
estabelece impostos, não está interessado se quem paga está gostando de pagar
ou não. Deus quando estabelece seus mandamentos, deseja que os obedeçamos de
todo o coração. Os impostos são para o bem daqueles que os recebem. Os
mandamentos são para o bem daqueles que os obedecem. Quando nós, pessoas e
igrejas, dizemos aos outros como devem viver, tendemos a ser pesados. Nós
julgamos os outros de forma sempre muito dura. Nós exigimos demais das pessoas.
Nossas exigências podem até decorrer do amor, mas se baseiam num conhecimento
superficial do outro e nem sempre estão alicerçadas no amor. Não produzimos
graça; só lei. Quando Deus nos exige o cumprimento aos seus mandamentos,
podemos estar tranquilos: eles não são pesados. A própria Bíblia o afirma (I João
5.1-3).
Pressupostos
(Que se supõe antecipadamente)!
Quando, no
entanto, nos aproximamos do Antigo Testamento, ficamos perplexos: não dá para
seguir os mandamentos de Deus ali deixados, até porque alguns não fazem mais
sentido para nós, que vivemos num contexto completamente diferente daquele
tempo, em que a tecnologia era rudimentar, se comparada a nossa, que será
rudimentar, comparada à do futuro. Não moramos em cabanas no deserto, mas em
casas com luz elétrica ou apartamentos com elevadores. Não somos hebreus e não
fomos tirados da escravidão no Egito, mas lemos no Antigo Testamento, que
compõe a Bíblia que nos rege: a Páscoa deve ser comemorada como um estatuto
perpétuo (Êxodo 12.14). Nossa compreensão da alma e do corpo humano também nos
coloca em conflito com os mandamentos do Antigo Testamento. O ideal do castigo,
para o aperfeiçoamento, morreu, com a graça, que nos educa para uma vida digna.
No entanto, lemos no Antigo Testamento (Deuteronômio 24.7). Quando lemos o Novo
Testamento, aprendemos que todos os sacrifícios (de animais) foram substituídos
por um só, o de Jesus Cruz na cruz por nós. Ainda encontramos lá instruções
sobre sacrifícios de animais. Uma delas diz, por exemplo (Levítico 3.16-17). Assim
mesmo, afirmo, os mandamentos do Antigo Testamento são validos ainda hoje. Só
precisamos de alguns cuidados, oferecidos pela razão, que recebemos de Deus
para discernir as coisas, e pela graça, ofertada por Deus para olharmos as
coisas sob a perspectiva eterna de Deus. Tem muita gente, até bem intencionada
e mal orientada, sofrendo por tentar seguir à risca mandamentos que a cruz
superou.
Para nos ajudar
nesta compreensão, para uma vida saudável, um cuidado é sempre levar em conta
que a Bíblia é um registro dinâmico da revelação progressiva de Deus para
conosco. Em cada época Ele fala de um modo que as pessoas possam entender.
Temos agora 66 livros, prontos e impressos, os que se iluminam ao outro, para
nos deixar as coisas bem claras. Ainda hoje Deus nos fala pelo conjunto da sua
apaixonada revelação.
Outro cuidado é
separar as narrativas e os mandamentos. Há muitas narrativas de comportamentos
cruéis ou inadequados, que são esperados de nós. O fato de a Bíblia narrar as
atitudes de alguns grandes homens, como Abraão, Moisés, Davi e Elias, por
exemplo, não quer sugerir que os sigamos em suas pisadas na bola; só nas
virtudes. A narrativa pode ser até
didática, mas jamais imperativa, a menos que outros textos claramente
recomendem essas atitudes.
Outro cuidado
também é perceber os princípios que estão por trás das normas. As normas
passam, mas os princípios são eternos. O sacrifício é uma norma, mas a
necessidade de que um pecado deve ser reparado (como fez Jesus Cristo por nós)
é um princípio; até hoje o salário do pecado é a morte, embora o dom gratuito
de Deus seja a salvação. O sábado é uma norma, mas separar um dia para descanso
e adoração é um princípio. Celebrar a páscoa é uma norma, mas celebrar o amor
libertador de Deus, na cruz e em nossas vidas hoje, é um princípio. Sem estes
cuidados, que fazem justiça aos propósitos de Deus em Sua Palavra, os
mandamentos não são apenas pesados, como impossíveis de serem cumpridos, mas com
estes cuidados posso ser fiel a Deus.
Padrões
Elevados!
Os mandamentos
de Deus não são pesados, mas seus padrões são elevados, tanto para a mente,
quando para o coração e para o corpo. Muitas instruções que aparecem
especialmente no livro de Levítico têm uma fase final, aparentemente sem
relação com o mandamento. "Eu, o Senhor seu Deus, sou santo". Tudo o
que vem de Deus é bom e elevado. E não poderia ser diferente. Quando ouvimos
Jesus, ele põe o próximo como o elo mais fraco destes mandamentos. E este elo
mais fraco é o critério pelo qual a nossa obediência é aferida. João entende
isto de maneira magistral (I João 5.1-3). Para entender esses três versículos,
precisamos ler os dois anteriores (1João 4.20-21). Não tem algo mais difícil
que amar ao próximo. O padrão é elevado, elevado, mas palpável. Elevado, mas
possível. Quero sugerir quatro grupos de pessoas para quem os mandamentos de
Deus são pesados.
Os
mandamentos de Deus são pesados para aqueles que os consideram impossíveis - Não são. São difíceis, mas
não impossíveis de serem vividos. Devem ser vistos como metas para a vida toda,
para serem vistas e revistas, buscadas e rebuscadas. Devemos buscar segui-los.
Quando fracassamos, devemos pedir perdão a Deus e força para continuar tentando
vive-los. Seja o nosso grupo o grupo dos que, mesmo os sabendo elevados,
querem-no como suas bússolas.
Os
mandamentos de Deus são pesados para aqueles que optaram por seguir sua própria
vontade, não a de Deus, expressa em Sua Palavra - Para estes, entre seus
impulsos e os mandamentos de Deus, ficam com seus impulsos. Nossa vontade é
forte e muitas vezes leva à morte. A vontade de Deus é para ser seguida em
liberdade, mas traz alegria. É uma questão de escolha, entre o certo (a vontade
de Deus) e o duvidoso (nosso desejo)
Os
mandamentos de Deus são pesados para os que se deixaram contaminar pelos
valores do mundo
- O "presente século", na expressão do apóstolo Paulo, é muito
contagiante. Ele vence pela repetição, pelo cansaço e pelo prazer. Os valores
do século se apresentam como politicamente corretos e racionais,
apresentando-se como direitos que merecemos. Soam irresistíveis, (Filipenses
3.19).
Os
mandamentos de Deus são pesados para aqueles que não consideram os benefícios
eternos desses mandamentos
- Quando lemos os Dez Mandamentos, só um tem uma promessa (o que pede honra aos
pais). No entanto, o cumprimento dos mandamentos tem um preço. A Bíblia chama
de bem-aventurados (felizes) os que levam a sério os mandamentos de Deus,
relacionando-os a bênçãos. Para os que não os levam a sério, as consequências
são tristes. Paulo nos lembra que Deus faz convergir as coisas para o bem
daqueles que amam a Deus. E quem ama a Deus? É quem obedece aos seus
mandamentos.
A
Sustentável Leveza dos Mandamentos de Deus!
Deus nos oferece
centenas de mandamentos e espera que os cumpramos. Eles são resumidos em dois,
para facilitar nossa compreensão, mas são muitas, para as várias situações de
nossas vidas. Não nos deixemos enganar, portanto. Há mandamentos, mas eles não
são pesados, por três razões, entre outras.
Os
mandamentos de Deus não são pesados
- Porque são oferecidos por Quem nos conhece, nos ama e visam o nosso bem. Deus
conhecesse os nossos desejos e os nossos limites. Se nos pede algo, é porque
podemos. Como nos conhece, Deus nos propõe mandamentos que, se cumpridos,
resultarão em nosso bem. Todos os mandamentos são para o nosso bem, para nos
fortalecer, nos aperfeiçoar, nos proteger, nos desenvolver.
Os
mandamentos de Deus não são pesados
- Porque Deus mesmo nos ajuda a cumpri-los. Deus nos ama. Por nos amar, nos
orienta e nos fortalece no caminho da obediência. Quando desobedecemos,
puxa-nos de novo para o bom caminho. Seu Espírito nos sopra palavras de
conselhos. Sua Palavra é plena de orientação.
Os
mandamentos de Deus não são pesados
- Porque são obedecidos por quem ama. A obediência a Deus demonstrada por um
homem ou por uma mulher de Deus é moldada pelo amor. E o que é feito com amor
não pesa. Pesa para a mãe amamentar seu filho? Pesar para os pais ou avós carregar
no colo um bebê querido? Pesa andar de mãos dadas com quem se ama, mesmo que
seja para evitar que um tropece? Pesa servir de cálice paras as lágrimas da
pessoa amada? Pesa obedecer a Deus, nosso amor maior? Se amamos a Deus, Seus
mandamentos não são pesados. Meça concretamente o seu amor por Deus vendo como
os mandamentos dEle são vividos por você.
Uma
Questão de Fé!
Por último, uma
pergunta se impõe: o que precisamos fazer para seguir os mandamentos de Deus?
Vejamos a resposta (I João 5.4). Pela fé, compreendo que tenho uma natureza
regenerada. Embora dentro de mim se trave uma luta, já escolhi o lado da luta:
o lado de Deus. Pela fé, descubro que venço o mundo (aqui entendível como o
conjunto de meus desejos, embebidos dos valores da sociedade em que vivo) pela
fé. Pela fé, entendo que as regras de Deus são as melhores para mim e para o
mundo. Se o mundo não as quer para si, eu as quero. Pela fé, aceito que os
mandamentos de Deus são expressões do seu cuidado. Se assim os considero, por
uma questão de obediência e inteligência, tudo farei para segui-los.
Bibliografia:
Bíblia Sagrada
(Almeida Corrigida)
Israel Belo de
Azevedo
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