Ciúmes!
Uma
certa vez li uma tira de jornal (da seção de quadrinhos), onde havia uma mulher
se lamentando: Oh.. Por que ele me deixou? Por quê? Por quê? Por quê? Eu não o
largava pra nada. Nunca o deixava sozinho. Eu ia comprar pão com ele, ia com
ele ao trabalho, ia com ele ao banheiro. Até na esquina de casa eu ia com ele.
Nunca o deixava sozinho, nem por um instante sequer. Por que ele me deixou? Por
quê?
Uma
mulher que não deixava seu marido respirar... Tratava-o como um incapaz, ou
como joia preciosa que precisava ser guardada pelo ser medo de ser roubada. Tem
gente que pensa que ciúme é tempero de casamento, e que por isso mesmo, não é
em si, mesmo, perigoso ou prejudicial. Aliás, há uma passagem na Bíblia Sagrada
que revela que Deus trata de seus filhos com ciúmes (Tiago 4.5). Bom, então o
ciúme não deve ser uma coisa ruim, não é mesmo? Depende da origem do ciúme.
A
palavra ciúme
Qual
é o significado real do termo traduzido como ciúme? Ele deve ser tomado num
sentido bom ou mau? No grego secular o
termo phtoneo significa inveja “que faz com que alguém
tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja, sem porém,
possuí-lo. Embora pareça ser sinônimo de zelos, “ciúme”, os
escritores clássicos distinguem um do outro. Enquanto zelos é “o
desejo de ter aquilo que outro homem possui, sem necessariamente ter
ressentimento contra aquele que o possui”, pthonos “se ocupa mais em
privar o outro da coisa desejada do que em obtê-la”.
No
Novo Testamento, a forma verbal ocorre apenas uma vez, enquanto que o
substantivo aparece nove vezes. Em Gálatas 5.26 “invejando-nos uns aos
outros” contrasta com “viver no Espírito” (Gálatas 5.25). Nas
epístolas aparece em várias listas de qualidades más. Em Gálatas 5.21 é uma
obra da carne. Em Romanos 1.29 é uma característica daqueles a quem Deus
entregou a um sentimento perverso, e em Tito 3.3 dos inconversos. Em I Pedro
2.1 é algo que os crentes devem deixar para trás, Timóteo 6.4 diz que nasce de
questões e contendas de palavras motivadas pela soberba. Os evangelhos (Mateus
27.18; Marcos 15.10) nos informam usando esse termo que foi por inveja que os
líderes religiosos entregaram Jesus a Pôncio Pilatos. Em Filipenses 1.15 o
termo é contrastado com boa vontade.
Em
análise pessoal, concluí que o ciúme pode ter origens diversas. Principalmente
a insegurança, o sentimento de posse e o sentimento de propriedade. Os ciúmes
por insegurança são mais observados nas mulheres. Tem medo de perder o marido.
O cônjuge é tratado como uma âncora ou boia, sem a qual morreria afogada. E que
por isso mesmo, se agarra com unhas e dentes com insano medo de perdê-la.
Medo
de ser abandonada, desprezada, trocada por outra... Medo da humilhação de não
ter um homem só seu... Então, esse medo faz a mulher agir de forma que causa
constrangimentos, sofrimentos, dores e a ruptura do relacionamento. Algo como
se segurasse uma coisa com tanta força em suas mãos que ela escapasse através
dos dedos.
Os
ciúmes por sentimento de posse são mais observados nos homens. A sua arrogância
os fazem tratar o cônjuge como uma propriedade qualquer cujo egoísmo não deixa
ser vista ou tocada por outrem. Um animal valioso, ou uma obra de arte de
grande valor que podem ser danificados (é meu e ninguém tasca!).
É
comum vermos os dois tipos de ciúmes concomitantemente em algumas pessoas.
Tratam o cônjuge como coisa preciosa e tem medo de perdê-la. E não somente em
relação aos cônjuges, mas também aos filhos, amigos, clientes, irmãos. Como se
fosse dono de tudo, e não pudesse perdê-los. Mas como perder o que não lhes
pertence?
O
ciúme de que trata a Bíblia é oriunda do sentimento de propriedade. Propriedade
no sentido de ser próprio, ser parte de um todo de forma indivisível. Tal e
qual nossos braços ou mãos são nossa propriedade, e jamais poderíamos dispor
deles. Jamais poderíamos dá-los ou emprestá-los a outrem. Compreende o que
quero dizer? Posse é coisa, propriedade é parte integrante. Somos parte de Deus
pelo seu Espírito que em nós habita; se é que em nós habita...
A
enorme diferença entre os ciúmes de Deus e os ciúmes humanos, é que Deus nos dá
a liberdade de errarmos. Não nos tranca num quarto, não nos espanca, não grita,
nem xinga, não exige satisfação de todos os nossos atos, e não nos impede de
andarmos sozinhos pelas ruas, ou de sair pela noite para ver a cidade, e tomar
um refrigerante no lanche da esquina.
As
pessoas que a quem amamos (ou pelo menos pensamos que amamos) não nos
pertencem. Muito pelo contrário. Nós é que pertencemos às pessoas que amamos. Quando
amamos realmente alguém somos capazes de deixar que ela seja feliz, mesmo... Que
seja ao lado de outro alguém. Volto a repetir, as obras da carne se manifestam
em nós quando o Espírito de Deus deixa de agir em nós e de comandar nossos
atos.
Os
ciúmes de Deus são pelo sentimento de propriedade e não pelo medo ou sentimento
de posse. Deus não tem medo de nos perder, e não nos trata como um animal
ganhador de vários prêmios. E nem nós o podemos.
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