sábado, 12 de outubro de 2013

Inveja - O cancer dos ossos.



Inveja!
Toda a humanidade sofre de uma doença congênita e hereditária chamada "pecado". Ela nasce com o ser humano, e está entranhada no mais profundo de seu ser. As manifestações do pecado são múltiplas e multiformes. A inveja é apenas uma delas.

Ocorre que a maioria das pessoas tem uma ideia sobre uma grande parte dos termos e conceitos usados correntemente. É o caso da inveja, do amor, do ciúme, do romantismo e milhares de outros. "Todo mundo" fala sobre isto, mas quando pedimos para que sejam definidos, conceituados, quase ninguém consegue, porque quase ninguém sabe. E quem se arrisca a fazer uma colocação sobre o termo, começa dizendo "pra mim".

No hebraico, qinah, «zelo», «ciúmes», «inveja». Essa palavra é empregada por quarenta e duas vezes, como, por exemplo, em Jó 5.2; Provérbios 14.30; 27.4; Eclesiastes 4.4; 9.6; Isaías 11.13; 26.11; Ezequiel 35.11. Também é usado o adjetivo «invejoso», no hebraico, gana, conforme se vê em Salmo 37.1; 73.3; Provérbios 24.1 e 19.

No grego, phthónos, «inveja», «ciúmes». Esse vocábulo ocorre por nove vezes: Mateus 27.18; Marcos 15.10; Romanos 1.29; Gálatas 5.21; Filipenses 1.15; I Timóteo 6.4; Tito 3.3; Tiago 4.5; I Pedro 2.1. Algumas versões também traduzem como tal o vocábulo grego zelos, mas este último tem mais o sentido de «zelo», «ardor».

Na mitologia grega, Ftono (em grego Φθονος, "inveja", "ciúme") é a personificação e o deus dos ciúmes e da inveja.

A palavra portuguesa «inveja» vem do latim, invidere, que significa «em» (contra) e «olhar para», ou seja, olhar para alguém com maus olhos, de modo contrário, com base no ódio sentido contra esse alguém. A inveja sempre envolve um certo ressenti­mento, mas alguns conseguem disfarçar muito bem a sua inveja, transmutando-a em zelo por alguma causa, mas sempre com alguém a ser combatido sem verdadeiras causas. O homem é um ser extremamente egoísta, ressentindo-se diante do sucesso ou da boa sorte de seus semelhantes.

A palavra grega phthónos, traduzida por “invejas”, vai além dos ciúmes. E o espírito que deseja não somente as coisas que pertencem aos outros, mas se entristece pelo fato de outras pessoas possuírem essas coisas. Os invejosos não apenas desejam o que pertence aos outros, mas anseiam que os outros sofram por perder essas coisas. Trata-se das pessoas que se alegram com a tristeza dos outros. Não é tanto o desejo de ter as coisas, mas o desejo de que os outros as percam. E entristecer-se por algum bem alheio. Eurípedes chamou a inveja de “a maior enfermidade entre os homens”.

Inveja é um sentimento ou não?
Inveja é uma emoção, como quase todas as obras da carne. Uma emoção que é um misto de vários fatores: vaidade, cobiça, frustração (incapacidade) e ódio (ou raiva).

Vaidade porque o invejoso é uma pessoa que quer sempre ser o melhor em tudo, o centro das atenções, o objeto dos comentários e dos suspiros alheios; quer ser invejado pelos demais. Nessa ânsia de ser admirado e invejado, o invejoso está sempre querendo mostrar o que tem (mesmo que não tenha), o que é (mesmo que não seja), e o que pode (mesmo que não possa).

Cobiça porque nessa ânsia de ser invejado, o invejoso quer sempre o que está além de suas posses e de suas capacidades. Frustração porque o invejoso sofre por não ser ou ter o que acha que deveria ser ou ter. E depois surge a raiva em seu coração, e assim, a necessidade de descarregar essa ira, essa raiva, essa frustração em forma de uma vontade de ferir, de magoar, de destruir, de fazer sofrer.

A inveja sempre tem duas vítimas: o próprio invejoso, e a pessoa de quem o invejoso sente inveja. O invejoso é sempre uma vítima de seu sentimento maligno, porque o faz sofrer. Remói a sua incapacidade, se martiriza e é infeliz por que não se contenta com o que é e nem com o que tem.

E a inveja sempre tem outra vítima: a pessoa de quem o invejoso sente inveja. O invejoso sempre elege alguém que tenha algo que o faça ser amado, querido e desejado. Algo que o torne popular. Uma popularidade que o invejoso quer ter a qualquer custo: uma mulher bonita ou um marido bonito, sucesso, um carro, uma voz sedosa, um bom emprego, bons filhos, uma roupa bonita entre outros.

No Antigo Testamento. Os Dez Mandamentos proíbem o sentimento invejoso, embora ali a própria palavra hebraica, qinah, não seja usada. Mandamentos específicos contra a inveja podem ser encontrados nos livros de Salmos, de Provérbios e em vários outros contextos. Ver, por exemplo, Provérbios 3.31; 23.17; O trecho de Eclesiastes 4.4 encerra uma interessante observação sobre o assunto. Ali os homens são exortados a trabalhar e a desenvolver suas habilidades pessoais, quando sentirem inveja de outrem. Assim, uma coisa boa pode resultar de uma atitude errada. O homem é capaz de qualquer coisa ruim. Exemplos veterotestamentários de inveja podem ser encontrados nas vidas de Jacó e Esaú, Raquel e Lia, os irmãos de José e ele mesmo. Os irmãos de José venderam-no como escravo, movidos por pura inveja. Um dos relatos mais tocantes da Bíblia é o de Hamã e Mordecai, no livro de Ester. A inveja tem sido motivo para muitas histórias pervertidas, para muitos dramas humanos.

No Novo Testamento. Dentro da lista de vícios humanos, preparada por Paulo, em Romanos 1.29, a inveja ocupa posição proeminente, associada ao homicídio e ao ódio contra Deus. Isso é muito sugestivo, pois parece que o invejoso, não podendo atacar a Deus diretamente (a quem considera a causa de seu insucesso), volta-se contra um outro ser humano, que parece ameaçá-lo com o seu sucesso (real ou imaginário). O trecho de Gálatas 5.19 alista a inveja como uma das obras da carne, que formam contraste direto com o cultivo dos frutos do" Espírito. — Paulo advertiu Timóteo para não se envolver em controvérsias e disputas mórbidas, as quais conduzem, entre outras coisas, à inveja (I Timóteo 6.4). Tito também foi devidamente instruído quanto à inveja (Tito 3.3). O caso mais trágico de inveja, nas páginas da Bíblia é o dos líderes judeus, que fizeram de Jesus Cristo a vítima de sua inveja (Mateus 27.18). O distorcido motivo deles era tão óbvio que o próprio Pilatos, governador romano, percebeu o mesmo, embora fosse homem fraco demais para pôr-se ao lado do direito. 

Mesmo que não o perceba ou admita, o invejoso culpa a pessoa invejada pelo seu insucesso, pela sua dor e sua frustração. E aí vem a raiva, o ódio, o desejo de magoar, ferir, fazer sofrer e destruir o "culpado" pelo fracasso desse invejoso em sua ânsia de ser o centro das atenções, o vencedor, o aclamado pelas multidões...

Todas estas manifestações e colocações que aqui faço nunca aparecem em suas exatas proporções. Isto é, não é porque tudo o que coloco não aparece é que a inveja deixa de existir, mas as colocações que agora faço podem aparecem em maior ou menor grau.

O problema maior da inveja são as suas consequências (como em toda escolha). Há pessoas que conseguem dissimular e esconder a sua inveja, e não causam nenhum mal senão a si próprio, mas na maioria das vezes a inveja causa dor e destruição. O invejoso sempre dá um jeito de se vingar do invejado, de lhe causar alguma forma de dor e sofrimento (humilhação e constrangimento são os mais comuns).

O invejoso sente uma mórbida satisfação em ver o sofrimento e a dor do invejado. Isso se chama "perversidade". Pregadores, músicos e cantores invejosos estão sempre a apontar os erros e os deslizes de quem sentem inveja, e estão sempre tentando expô-los ao ridículo, não raro distribuindo e fomentando (ou fermentando) "informações inverídicas ou distorcidas" (popular "fofoca").

Uma lenda grega!
Era uma vez um rei chamado Dionísio, monarca de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília. Vivia num palácio cheio de requintes e de belezas, atendido por uma criadagem sempre disposta a fazer-lhe as vontades. Naturalmente, por ser rico e poderoso, muitos siracusanos invejavam lhe a sorte. Dâmocles estava entre eles. Era dos melhores amigos de Dionísio e dizia-lhe frequentemente: Que sorte a sua! Você tem tudo que se pode desejar. Só pode ser o homem mais feliz do mundo! Dionísio foi ficando cansado de ouvir esse tipo de conversa. Assim, certo dia propôs ao amigo a experiência de passar um dia, um dia apenas em seu lugar, como monarca, desfrutando de tudo aquilo. Este aceitou imediatamente com alegria.

No dia seguinte, Dâmocles foi levado ao palácio e os criados reais lhe puseram na cabeça a coroa de ouro, e o trataram como rei. Recostou-se em almofadas macias e sentiu-se o homem mais feliz do mundo. Ah, isso é que é vida! – Confessou a Dionísio, que se encontrava sentado à mesa, na outra extremidade. “Nunca me diverti tanto.” Subitamente, Dâmocles enrijeceu-se todo. O sorriso fugiu-lhe dos lábios e o rosto empalideceu. Suas mãos estremeceram. Esqueceu-se da comida, do vinho, da música. Só queria ir embora dali, para bem longe do palácio, para onde quer que fosse. Percebeu que pendia bem acima de sua cabeça uma espada, presa ao teto por um único fio de crina de cavalo. A lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos. Ficou paralisado, preso ao assento. Tentou levantar, mas não conseguiu, por medo de que a espada, com um movimento seu, pudesse lhe cair em cima.

O que foi, meu amigo? – Perguntou Dionísio. – Parece que você perdeu o apetite. Essa espada! Essa espada! – Disse o outro, num sussurro. – Você não está vendo? É claro que estou. Vejo-a todos os dias. Está sempre pendendo sobre minha cabeça e há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa partir o fio. Um dos meus conselheiros pode ficar enciumado do meu poder e tentar me matar. As pessoas podem espalhar mentiras a meu respeito para jogar o povo contra mim. Pode ser que um reino vizinho envie um exército para tomar-me o trono. Ou então, posso tomar uma decisão errônea que leve à minha derrocada. Quem quer ser líder precisa estar disposto a aceitar esses riscos. Eles vêm junto com o poder, percebe? É claro que percebo! – Disse Dâmocles. Vejo agora que eu estava enganado e que você tem muitas coisas em que pensar além de sua riqueza e fama. Por favor, assume o seu lugar e deixe-me voltar para a minha casa. Até o fim de seus dias, Dâmocles não voltou a querer trocar de lugar com o rei, nem por um momento sequer.

Antes de deixar que a inveja cresça em nosso coração, lembremos da espada de Dâmocles.
Toda riqueza, todo poder, toda fama vem com uma série de decorrências naturais que devem ser consideradas. Não nos deixemos consumir por esta luta incessante do orgulho, da vaidade não satisfeita.

Seja como for, a inveja é uma atitude diabólica, conforme assevera I João 3.12. A inveja, como já dissemos, é uma das obras da carne, pelo que é natural para o ser humano decaído (Gálatas 5.21). A inveja é uma das mais feias e mais tristes misérias do nosso globo e na teologia moral posterior, a inveja é alistada entre os pecados mortais.

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